domingo, 7 de agosto de 2011

Apenas mais um quase conto de fadas




   - Atenção senhores passageiros, favor comparecer ao balcão de check-in, o voo partirá em 20 minutos.
   Vinte minutos. Esse era o tempo que eu tinha para decidir o destino da minha, um tanto quanto trágica, vida. Minha cabeça girava e parecia um emaranhado de cordas envolvendo nós. Uma confusão de pensamentos indo e vindo pareciam se chocar a cada segundo que passava.
  Partimos então para a parte que mudei o meu conceito sobre Dan.
  Na fria manhã desse não tão agradável dia, acordei com um beijo preguiçoso de um corpo que me aquecera confortavelmente a noite toda, o dele. O despertador berrava aquela música que escutamos no ônibus em que nos conhecemos e insistia em me forçar a sair da minha barreira de proteção contra a realidade. Coloquei meu sobretudo-de-todo-dia, tomei o meu cappuccino a goles e me joguei na frente de um taxi que por pouco não parou.
  Reuniões, decisões, críticas, café. Discussões, bocejos, reclamações, café. Essa era a minha rotina na sala de redação da Truddie’s, minha revista favorita desde que me conheço por gente, na qual tenho orgulho de dizer que trabalho. 
  Na porta giratória de saída do prédio, esbarrei com uma loira atraente, de olhar profundo e decote extravagante, que derrubou a bolsa que continha uma coleção inteira de batons e uma foto dele.  Ela ajuntou tudo apressadamente, pediu desculpas e saiu cambaleando em seu salto 15.
  Aquilo me derrubou. Não consegui ligar os pontos, como Dan pôde fazer isso comigo e de onde essa mulher surgiu?
  Eu só me lembro de ligar imediatamente para ele e ficar aguardando a sua voz traíra.

  - Oi, aqui é o Dan, estou por aí, deixa recado depois do bip... (Biiiiiiiip).

  Desliguei. Não consegui soltar o que estava entalado. Não consegui falar nem gritar, só consegui chorar e escrever. Deixei um bilhete completamente ensopado que dizia:

  É, acabou aquele nosso ‘felizes para sempre’ que eu ingenuamente, acreditava ser verdadeiro.
  Acho que não é necessário explicações, há uma foto sua tirada por outra mulher, que você deve conhecer muito melhor do que eu, e que... Fará isso por mim. Eu realmente vou descartar a ideia de continuar vivendo nessa cidade, porque cada vez que olhar para um ponto de ônibus lembrarei de você e do que foi capaz de fazer enquanto estava comigo. O que vai acabar me matando... Mesmo assim, não me arrependo de ter te conhecido, foi bom pra eu enxergar que você não era tudo aquilo que eu imaginava e parar de esperar tanto das pessoas de uma vez.
                                                                                           Até nunca mais.
                                                                                                         Becky

  Desde então, estou na fila do check-in para o embarque pra qualquer lugar que seja mais fácil de respirar, ou seja, bem longe de Dan. 
  De uma hora para outra, vejo a mulher loira aparecer no meio da multidão correndo desesperadamente.
  
 - Você é a Becky?

 Não teria respondido se não tivesse notado a tal foto em suas mãos.

- O que vai ser agora? Vai começar com ‘eu posso explicar’ ou ‘não é isso que você está pensando’?
  
Eu estava mesmo gritando ou era coisa da minha cabeça? Nunca tinha batido boca com ninguém até então.
  
 - Isso é seu? Acho que coloquei na minha bolsa por engano quando nos encontramos no outro dia na Truddie’s.
  
 É nesses momentos que a gente vê até que ponto uma pessoa pode mentir.

  - Você nem se esforçou! Vai me dizer que essa foto não caiu da sua bolsa.

  - Você pode ao menos ler o que está escrito no verso da foto? – Ela insistiu pacientemente.
  
Puxei-a com raiva, não tinha mais nada a perder.

  Eu sei, demorei demais para me dar conta do quanto eu estou gostando de você, Becky. Desde o dia em que te vi naquele ponto de ônibus e me sentei no assento vago no seu lado, ao som de Can’t Stand it do NeverShoutNever -é ridículo, mas eu lembro- a partir  daquele momento, seu sorriso sincronizando perfeitamente com seus olhos caramelados e seus cabelos levemente ruivos, não abandonaram mais a minha cabeça. Assim como o dia em que nos esbarramos pela segunda vez no corredor da universidade em que estudávamos, onde aconteceu nosso primeiro beijo e decorrente dele, a melhor noite da minha vida, que você tornou igualmente inesquecível. Porém nenhum elogio é páreo para descrever sua beleza, o toque da sua pele, e a vergonha que sempre me faz passar quando faz as suas caretas bobas em lugares públicos... Ao menos sabe tudo que já fez por mim ao apenas me conhecer? Não? Então tomara que uma vida inteira ao seu lado seja o suficiente para te mostrar, pois espero que aceite se tornar Rebecca West e deixar pra lá o ‘Montgomery’. Eu te amo muito e vou te esperar hoje à noite naquele ponto de ônibus pra receber a resposta junto com a minha dose diária de suas maluquices. 
                                                                                  Do seu idiota favorito,
                                                                                                     Dan             

  - Tem certeza que isso não caiu das suas coisas, mesmo?- a loira frisou.

  Fiquei sem reação... Não tinha me dado conta que a foto poderia ter sido tirada pelo próprio Dan e colocada na minha bolsa de surpresa. Abracei a mulher loira rindo e pedi desculpas. Como eu pude perder o controle tão bruscamente? De hoje em diante passei a adorar a palavra engano.
 Rasguei o bilhete da passagem e o encharcado também, tomei o melhor banho da minha vida e parti ao encontro do meu Dan -e de ninguém mais- rumo ao lugar onde tudo começou, e talvez - quem sabe? - ao meu merecido final feliz.

2 comentários:

  1. Respostas
    1. Ah que bom Marina! Não sei se esse vai ter continuação, um outro conto que estou escrevendo em breve vai estar aqui, prometo! :)

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