sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Esperar: ato ou efeito de morrer aos poucos



    Me dirijo até a última fileira vazia do trem. Pelo menos as cidades pequenas tem a vantagem de não ter trens lotados. Sempre fui a única -a esquisita-do meu grupo de amigos que gostava de ficar em silêncio. Com exceção do silêncio temperado à fones de ouvido no último volume.
    Ver as folhas caindo das árvores vítimas do outono e as águas do lago se agitando costumava relaxar qualquer preocupação que se apoderava de mim. Mas agora que você está a muitos quilômetros desse trem, esse remédio parece não ter o mesmo efeito.
    Paro em um local recheado de árvores intercaladas nas cores marrom, vermelhas e amarelas. Nossa última conversa foi exatamente nesse banco castigado pelo frio. A sua pressa em acrescentar uma formação ao seu nome, deixou o nós para o segundo plano, mas a minha ingenuidade não permitiu o nosso fim, digo, completamente.
    O tempo custou a passar, mas passou. E aqui estou eu, esperando por você. Esperando pelo seu suéter macio roçando no meu rosto, esperando pela sua mania de me deixar constrangida ao ficar me olhando do seu jeito estranho. Esperando pelo abraço que me protegia de tudo. Esperando pelo dia que eu teria isso mais uma vez.
    Aí tudo que tenho evitado lembrar invade meus pensamentos impiedosamente. Você não vai voltar. Não já, não hoje. Talvez algum dia apareça pra lembrar dos tempos que fugíamos da escola, desesperados por um aconchego no nosso lugarzinho nesse maldito parque. Ou talvez esse dia não chegue. Quem é que vai saber.

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