Me dirijo até a
última fileira vazia do trem. Pelo menos as cidades pequenas tem a vantagem de não
ter trens lotados. Sempre fui a única -a esquisita-do meu grupo de amigos que
gostava de ficar em silêncio. Com exceção do silêncio temperado à fones de
ouvido no último volume.
Ver as folhas caindo
das árvores vítimas do outono e as águas do lago se agitando costumava relaxar
qualquer preocupação que se apoderava de mim. Mas agora que você está a muitos
quilômetros desse trem, esse remédio parece não ter o mesmo efeito.
Paro em um local
recheado de árvores intercaladas nas cores marrom, vermelhas e amarelas. Nossa
última conversa foi exatamente nesse banco castigado pelo frio. A sua pressa em
acrescentar uma formação ao seu nome, deixou o nós para o segundo plano, mas a
minha ingenuidade não permitiu o nosso fim, digo, completamente.
O tempo custou a
passar, mas passou. E aqui estou eu, esperando por você. Esperando pelo seu
suéter macio roçando no meu rosto, esperando pela sua mania de me deixar
constrangida ao ficar me olhando do seu jeito estranho. Esperando pelo abraço
que me protegia de tudo. Esperando pelo dia que eu teria isso mais uma vez.
Aí tudo que tenho
evitado lembrar invade meus pensamentos impiedosamente. Você não vai voltar.
Não já, não hoje. Talvez algum dia apareça pra lembrar dos tempos que fugíamos
da escola, desesperados por um aconchego no nosso lugarzinho nesse maldito
parque. Ou talvez esse dia não chegue. Quem é que vai saber.
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